No final da Rua 17, havia uma casa que ninguém se atrevia a frequentar. As janelas permaneciam sempre cerradas, o jardim estava tomado por folhagens secas, e uma lamparina pendurada na varanda permanecia sempre acesa — mesmo durante as piores tempestades.
Contavam que a casa fora da senhora Melina, uma viúva que sumira há mais de duas décadas, numa noite de Dia das Bruxas. Os garotos da vizinhança afirmavam escutar seu piano tocar sozinho à meia-noite, sempre a mesma canção lenta e melancólica.
Naquele 31 de outubro, Renata e seus amigos resolveram mostrar que tudo não passava de boato. Equipados de lanternas e muita bravura, foram até lá. A porta emitiu um ruído ao ser aberta. O ar no interior tinha odor de bolor e de velas antigas.
— Vejam... o piano! — falou Renata, mostrando o salão.
As teclas estavam tomadas por pó... exceto uma, alva e imaculada.
Antes que alguém dissesse algo, o piano começou a soar sozinho. As notas ressoaram pelas paredes, e a lamparina da varanda brilhou com mais intensidade, como se tivesse despertado.
As luzes das lanternas tremeram. No espelho da sala, refletia-se uma mulher pálida de traje preto, com um olhar vazio. Ela sorria — não para eles, mas para o reflexo.
Renata soltou um grito, e todos fugiram dali. Só que, ao olharem para trás, a lamparina estava apagada pela primeira vez em duas décadas.
Na manhã seguinte, os moradores encontraram a lamparina acesa novamente. Mas dentro dela, perto da chama, havia algo novo: uma pequena imagem que ninguém conhecia.
Exibia quatro crianças — e uma menina de longos cabelos que parecia sorrir ao fundo, como se sempre tivesse estado ali.